No potente ‘Guerra Civil’, de Alex Garland, jornalistas são última esperança; leia crítica

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No potente ‘Guerra Civil’, de Alex Garland, jornalistas são última esperança; leia crítica

Os Estados Unidos estão desmoronando no novo filme de Alex Garland, Guerra Civil, uma experiência estrondosa e assustadora na tela grande. O país está

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Os Estados Unidos estão desmoronando no novo filme de Alex Garland, Guerra Civil, uma experiência estrondosa e assustadora na tela grande. O país está em guerra consigo mesmo há anos quando somos convidados a entrar, pelo olhar de jornalistas que documentam o caos nas linhas de frente e tentam uma entrevista impossível com o presidente.

Wagner Moura interpreta jornalista em ‘Guerra Civil’, filme de Garland.
 Foto: A24/Divulgação

Garland, roteirista e diretor de filmes como Aniquilação e Ex Machina, bem como da série Devs, sempre parece estar de olho no lado mais feio da humanidade e na nossa capacidade de autodestruição. Seus temas são profundos e sua exploração sobre eles é sincera, com imagens estranhas e assustadoras que ficam circulando no nosso subconsciente por muito tempo. Talvez você não tenha gostado de Men: Faces do Medo, seu filme mais polêmico até agora, mas é improvável que tenha se esquecido de Rory Kinnear dando à luz a si mesmo.

Em Guerra Civil – estrelado por Kirsten Dunst como uma veterana fotógrafa de guerra chamada Lee – Garland mais uma vez desafia seu público ao não fazer o filme sobre aquilo que todo mundo acha que vai ser – ou deveria ser. Sim, é um país politicamente rachado. Sim, o presidente (Nick Offerman) é um déspota boquirroto e em ascensão que conquistou um terceiro mandato, começou a atacar seus cidadãos e se isolou da imprensa. E, sim, tem um personagem aterrorizante, interpretado por Jesse Plemons, com algumas falas bastante duras sobre quem é ou não americano de verdade.

Mas aquele trailer que mexeu com todo mundo não conta a história inteira. Garland não é tão monótono ou narrativamente conservador para fazer um filme sobre ideologias de lados opostos. Tudo o que sabemos é que as chamadas Forças Ocidentais do Texas e da Califórnia se rebelaram e estão prestes a derrubar o governo. Não sabemos o que elas querem ou por quê, nem o que o outro lado quer ou por quê – e você começa a perceber que muitos dos personagens também não sabem e talvez nem queiram saber.

Essa escolha talvez seja frustrante para alguns públicos, mas é também a única que faz sentido num filme centrado nos jornalistas que se colocam em perigo para contar histórias de tumultos e conflitos violentos. Como Lee explica à Jessie de Cailee Spaeny, uma jovem aspirante a fotógrafa que abriu caminhos na perigosa jornada das duas até Washington, não é ela quem tem de fazer as perguntas: ela tira fotos verdadeiras e imparciais para que todos possam fazer as próprias perguntas.

Guerra Civil é um filme que fala mais de repórteres de guerra do que qualquer outra coisa – o trauma da cobertura, a importância vital do testemunho, os dilemas morais e éticos da imparcialidade. Lee está passando por uma crise existencial: registrou inúmeros horrores e sente que não fez diferença nenhuma – a violência e a morte ainda estão por toda parte. Ela também é uma grande profissional: calejada e comprometida com a história e a imagem. Seu colega Joel (Wagner Moura) está mais para um viciado em adrenalina, corre atrás dos tiros e bebe até cair toda noite. Jessie (Spaeny), a novata de olhos arregalados, mas ambiciosa, está perdendo a cabeça. E o velho editor Sammy (o grande Stephen McKinley Henderson), sábio e alinhado de camisa e suspensório, não consegue imaginar uma vida para além das notícias, mesmo com o corpo ruindo. Todos são automotivados e nenhum deles tem uma vida fora do trabalho, o que pode ser uma crítica para personagens de outros filmes, mas não deste (alerta de gatilho para os jornalistas por aí).

O grupo precisa trilhar uma rota sinuosa para ir de Nova York a Washington da forma mais segura possível, passando por Pittsburgh e Virgínia Ocidental. As estradas e cidades parecem um pouco cenográficas demais, mas qualquer pessoa que conheça a região vai reconhecer shoppings abandonados, postos de gasolina desérticos, lojas lacradas com tábuas e estacionamentos cobertos de mato – um cenário perturbadoramente eficaz para o mundo sombrio da Guerra Civil.

Dunst e Spaeny estão extraordinárias, incorporam com toda veracidade a veterana e a novata – uma dinâmica bem escrita, cheia de nuances e em evolução que deve inspirar debates e discussões pós-créditos (entre outros tópicos).

O pavor permeia cada quadro, seja um momento tranquilo de conversa inteligente, um impasse tenso ou um tiroteio ensurdecedor na 17th Street. E, assim como todos os outros filmes de Garland, este vem com uma trilha sonora excelente e atenciosa, além de uma participação especial de Sonoya Mizuno.

Sucessos de bilheteria inteligentes, empolgantes e desafiadores não aparecem com muita frequência, embora os últimos meses tenham oferecido um relativo banquete com filmes como Duna: Parte Dois e Oppenheimer. Guerra Civil também deveria fazer parte dessa conversa. É uma experiência cinematográfica de corpo inteiro que merece uma chance. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Fonte: Externa