A namorada do amigo que acompanhava o empresário Fernando Sastre Andrade Filho, de 24 anos, no Porsche que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da
A namorada do amigo que acompanhava o empresário Fernando Sastre Andrade Filho, de 24 anos, no Porsche que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, afirmou à polícia que o condutor do caro de luxo havia bebido “alguns drinques” horas antes do acidente na zona leste de São Paulo, na madrugada de domingo, 31. A testemunha disse ainda que o jovem parecia “um pouco alterado” antes da colisão.
As informações foram divulgadas pelo portal Metrópoles e confirmadas pelo Estadão.
Em depoimento, o empresário afirmou que dirigia o Porsche “um pouco acima” do limite de velocidade da Avenida Salim Farah Maluf, mas não precisou a velocidade exata. O máximo permitido na via é de 50 km/h. Ele negou que estivesse sob efeito de drogas ou bebidas alcóolicas.
A advogada Carine Acardo Garcia afirmou que há “um linchamento” contra seu cliente. “O que está se criando é uma disputa entre classes que não existe, não deveria existir. O que aconteceu foi uma fatalidade”, afirmou a defensora. “Existem as circunstâncias em que uma pessoa pode assumir o risco? Existem, mas a Justiça vai ver se foi o caso ou não”, disse.
A testemunha, identificada pela polícia como Juliana Simões, de 22 anos, relatou que ela, o namorado – chamado Marcus Vinicius Rocha, segundo o boletim de ocorrência -, Andrade Filho e a namorada do empresário jantaram em um restaurante no Jardim Anália Franco, também na zona leste.
Nesse local, de acordo com Juliana, todos beberam “alguns drinques”. Eram cerca de 21h30, de acordo com a testemunha.
Depois, o grupo seguiu para a casa de pôquer, na Rua Marechal Barbacena, no Tatuapé. As câmeras de segurança registram o horário de 23h35 de sábado, 30, conforme a polícia. A testemunha afirmou não se lembrar se Fernando bebeu no local. A casa funciona no sistema “open bar” (com oferta livre de bebida) com o valor de R$ 300 por pessoa.
Na saída, os dois casais ficaram cerca de cinco minutos conversando. Segundo o depoimento da jovem, era uma discussão para que Andrade Filho não dirigisse. Eles combinaram que Rocha fosse do banco do passageiro. Ela afirmou que o motorista do Porsche parecia “um pouco alterado”.
A Polícia Civil analisa novos vídeos de câmeras de segurança que mostram essa dinâmica dos acontecimentos. Há registros da chegada do empresário e do amigo com seu Porsche à casa de pôquer.
Em outras imagens, Andrade Filho e o amigo deixam o local em companhia de duas mulheres. Os dois saem com o Porsche e são seguidos por um Audi Q5, onde estão as namoradas. A casa de pôquer fica a 1,4 quilômetro distante do local do acidente.
A testemunha afirma que os dois carros se distanciaram. Juliana ligou para o namorado que disse ter “sofrido um acidente”. Em seguida, as duas foram até o lugar da batida.
Na quarta-feira, 3, policiais apreenderam computadores na casa de pôquer. A investigação quer saber se as câmeras do estabelecimento gravaram Andrade Filho dentro do local e se ele tomou bebida alcoólica.
O depoimento de Rocha, o amigo que estava no banco do carona no Porsche, ainda não foi colhido pelos investigadores. A polícia informou que ele passou por uma cirurgia.
Por volta das 2 horas do domingo, 31, o empresário bateu na traseira do Renault Sandero EXP branco, 2017, que era dirigido pelo motorista de aplicativo, Ornaldo Viana, de 52 anos. Ele chegou a ser socorrido com um quadro de parada cardiorrespiratória e encaminhado ao Hospital Tatuapé, mas morreu por causa de “traumatismos múltiplos”.
Pelas imagens, captadas pelas câmeras de segurança, é possível perceber a violência da colisão, que leva os dois carros para o canteiro da avenida. Um deles bate no poste de luz, o que provoca a queda imediata de energia elétrica no quarteirão.
Andrade Filho foi indiciado por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, lesão corporal ao companheiro de veículo e fuga do local do acidente.
Motorista afirma que policiais autorizaram ida ao hospital
A Polícia Civil também investiga as razões para os policiais militares que atenderam à ocorrência terem liberado o empresário do local do acidente, que se apresentou quase 40 horas depois do incidente.
No registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmam que a mãe de Andrade Filho compareceu ao local e disse que levaria o filho ao Hospital São Luiz, no Ibirapuera, zona sul, para tratar de um ferimento na boca. Quando os agentes foram ao hospital para fazer o teste do bafômetro e colher sua versão do acidente, não encontraram nenhum dos dois.
O empresário negou que tivesse fugido do local do acidente. Disse que foi o “último a sair do local com sua mãe” e que seu amigo e o Ornaldo já haviam sido socorridos. Os advogados afirmaram que ele apenas se “resguardou de linchamento”.
Em seu depoimento, o empresário admitiu que não foi para nenhum hospital porque sua mãe passou a receber “ameaças pelo celular”. Ele afirmou que não viu quais ameaças porque sua mãe não havia deixado que ele visse as mensagens.
O ouvidor Claudio Silva disse à reportagem do Estadão que a Ouvidoria da Polícia Civil acionou a Corregedoria da Polícia Militar ainda na segunda-feira, 1, para apurar a conduta dos agentes.
A Secretaria da Segurança Pública afirma que vai analisar a “dinâmica da ocorrência para identificar eventual erro de procedimento operacional”. A secretaria não precisou quanto tempo levou entre a chegada da PM ao local e o registro da ocorrência.