Orgulho. Não tem outra palavra que defina melhor o que Denise Goes, mãe de Rodrygo, sente pelo filho. Aos 23 anos, o prodígio já conquistou
Orgulho. Não tem outra palavra que defina melhor o que Denise Goes, mãe de Rodrygo, sente pelo filho. Aos 23 anos, o prodígio já conquistou uma Champions League por um dos maiores clubes do mundo, o Real Madrid, jogou uma Copa do Mundo e ainda por cima vai vestir a camisa dez da seleção brasileira na Copa América.
Qualquer coisa que eu disser aqui não tem nem dimensão do que é. Olhar para trás e ver que tudo que a gente plantou, tudo que a gente abriu mão, todo esforço que a gente fez valeu muito, muito a pena. Então para descrever em uma palavra: orgulho. Não teria outra.
Denise Goes, mãe de Rodrygo
A praticamente dois meses do início da Copa América, Rodrygo herdou a camisa 10 deixada por Neymar, que segue se recuperando de lesão no joelho. Nos amistosos contra Inglaterra e Espanha, o Rayo usou a lendária numeração.
Eu brinco com ele, às vezes falo ‘Filho, você não está nervoso?’ e ele ‘Nervoso com o quê, mãe?’. Porque mãe é mais ansiosa, se desespera mais, mas a tranquilidade dele também nos acalma. Eu falo que eu aprendo com ele todos os dias, porque o Rodrygo tem costume de falar sem falar, e ele fala sem abrir a boca, ele observa muito. Então, eu falo que ele só abre a boca quando é pra definir. Mas a gente está com uma expectativa bem bacana, bem confiante de que vai dar certo
Rodrygo se tornou um Menino da Vila aos 11 anos. Durante a adolescência no Santos, Eric Goes, pai de Rodrygo, era jogador profissional, vestiu as camisas de Criciúma, Ceará, Linense, Guarani, Cuiabá e outros. No meio disso tudo, estava Denise. A mãe do craque revelou ter sido um período difícil, mas que serviu para unir ainda mais família.
Foi a parte mais difícil, a gente sempre fala. A gente morava em Osasco, no primeiro ano eu descia pra Santos, três vezes na semana, fora os jogos nos finais de semana. No ano seguinte eu mudei, mas foi somente eu e o Rodrygo, o Eric continuou rodando mundo afora, jogando. Então era a parte mais difícil, porque o Rodrygo sempre foi apegado a ele, então a distância era crucial, e aí eu ficava vendo a tabela de um, a tabela de outro pra tentar ver em qual momento nós iríamos conseguir se ver. Mas a gente já chegou a ficar dois meses e meio sem se ver
Nem tudo são flores
Na eliminação contra a Croácia, na Copa do Mundo do Catar, Rodrygo foi o responsável por abrir a cobrança nas penalidades. E acabou perdendo. O duro golpe serviu de aprendizado para o jovem, que, na época, disse ser o “momento mais doloroso da carreira”.
Não foi um momento fácil, foi um momento triste, mas eu até fiz uma postagem pra ele no Instagram que eu dizia que foi o dia que eu mais senti orgulho dele. Foi o dia que, pra mim, claro, a gente ficou triste e tudo mais, mas dele pegar a bola sem ter aquela responsabilidade pra gente foi orgulho. Claro, ele ficou muito triste, mas passado os dias ele foi assimilando e entendendo ‘Cara, eu fui escolhido. Então vai ter dias que eu vou passar por isso, vão ter dias que eu vou estar no topo, vão ter dias que não vão ser tão felizes’, mas a gente levantou a cabeça e falou que para nós é orgulho, não tem outra coisa a se dizer.
Rodrygo ou Rodraygo?
Ao ser perguntada sobre o porquê de ter escolhido nomear o filho de Rodrygo, com “Y”, Denise conta que foi por gosto, e que até foi questionada no cartório.
Eu queria muito nome composto e o pai dele não queria, até quando surgiu Rodrygo. Eu falei ‘Tá bom, mas só se for com Y’. E aí foi. Tanto que, quando chegamos no cartório, o moço falou ‘Nossa, mas Y? Vai te dar um pouco de problema’ e eu falei ‘Não, moço, eu quero com Y’, e aí foi.
“Problema” esse que se transformaria numa marca. Se ela se incomoda que o chamem de Rodraygo? Que nada.
Não, eu acho bem bacana quando eles inventam, aqui ele é muito conhecido como Rodry. Quando você vai no clube, as pessoas não falam Rodrygo, falam Rodry, então quando você vê você também tá falando Rodry. No Brasil, já é ‘Rodraigo’, então é legal, é bacana
Confira os principais trechos da entrevista com Denise Goes
Como é ser mãe de um craque do futebol brasileiro?
“Olha, é muito, muito orgulho. Qualquer coisa que eu disser aqui não tem nem dimensão do que é. Olhar para trás e ver que tudo que a gente plantou, tudo que a gente abriu mão, todo esforço que a gente fez valeu muito, muito a pena. Então para descrever em uma palavra: orgulho. Não teria outra”.
Teve algum momento que você percebeu que o Rodrygo se tornaria uma estrela do futebol?
“Pra mãe é mais difícil assim, né? Eu não tinha tanta noção, o pai sempre teve mais do que eu. Mas assim, a gana dele, a vontade dele por estar sempre com a bola, não existia nenhum brinquedo, não existia uma outra coisa que não fosse a bola pra deixar ele feliz. E era o dia inteiro jogando com a bola, jogando a bola na garagem, então ali a gente já começou a ver. Eu não tinha dimensão de onde ele chegaria, mas eu sabia que alguma coisa ele iria virar. Jogador ele iria virar, mas eu não sabia o nível, porque era muito, desde quando nasceu, fanático por bola, era surreal”.
O Eric (pai do Rodrygo) foi jogador, e muitas vezes estava viajando. Vocês moravam em Osasco e o Rodrygo treinava em Santos. Como vocês faziam, como família, pra superar a distância?
“Foi a parte mais difícil, a gente sempre fala. A gente morava em Osasco, no primeiro ano eu descia pra Santos, três vezes na semana, fora os jogos nos finais de semana. No ano seguinte eu mudei, mas foi somente eu e o Rodrygo, o Eric continuou rodando mundo afora, jogando. Então era a parte mais difícil, porque o Rodrygo sempre foi apegado a ele, então a distância era crucial, e aí eu ficava vendo a tabela de um, a tabela de outro pra tentar ver em qual momento nós iríamos conseguir se ver. Mas a gente já chegou a ficar dois meses e meio sem se ver. Ele [Eric] jogava em Fortaleza, no Ceará e o Rodrygo já estava em um nível mais de competição, o Rodrygo jogava aos sábados e tinha treino na segunda, então não tinha como fazer essas viagens, então era o momento mais difícil, a distancia”.
Quando tudo dá certo, é tudo uma maravilha. Campeão, artilheiro… Mas e quando perde? O que você fala pro seu filho?
“Olha, a gente tem muito assim ‘Você deu o seu melhor? Você acha que você chegou no seu melhor?’. Então tem dias que a gente fala ‘Você vai chutar 10 e vai entrar uma, e tem dias que você vai chutar uma e vai entrar aquela, e só’. O dia que não foi, claro, procurar os erros pra tentar no próximo acertar, mas eu sempre falo muito pra ele ‘Filho, tudo a gente tem que tirar um aprendizado’. A partir do momento que você entrou dentro do campo, eu falo sempre pra ele que ele foi escolhido por Deus para fazer aquilo, que é jogar futebol. Então quando ele tá dentro de campo ele tem que usar o dom que Deus deu pra ele.
“Se você deu seu melhor e o resultado não veio, levanta a cabeça e vamos pro próximo. Claro que ainda tem aquele negócio dele assimilar a derrota, mas eu sempre falo pra ele ‘Você tem que sair com a consciência limpa de que você deu o seu melhor. Tem dias que as coisas não vão acontecer’. Eu brinco que o futebol ele não te dá essa chance, nem de comemorar muito e nem de sofrer, porque você comemora muito no domingo mas na quarta você já tem jogo, e se você perde esquece tudo que foi feito no domingo. Então eu falo pra ele que o futebol é muito doido, ele não te deixa comemorar e nem ficar muito triste, ele te dá chances pra sempre se superar”.
Quando o Rodrygo perdeu o pênalti na Copa do Mundo do Catar, como foi a reação dele? Como foi aquele dia?
“Não foi um momento fácil, foi um momento triste, mas eu até fiz uma postagem pra ele no Instagram que eu dizia que foi o dia que eu mais senti orgulho dele. Foi o dia que, pra mim, claro, a gente ficou triste e tudo mais, mas dele pegar a bola sem ter aquela responsabilidade pra gente foi orgulho.
“Claro, ele ficou muito triste, mas passado os dias ele foi assimilando e entendendo ‘Cara, eu fui escolhido. Então vai ter dias que eu vou passar por isso, vão ter dias que eu vou estar no topo, vão ter dias que não vão ser tão felizes’, mas a gente levantou a cabeça e falou que para nós é orgulho, não tem outra coisa a se dizer”.
“Aqui a gente é muito unido, se as coisas estão boas estamos juntos, se não estão continuamos juntos também, e seguimos”.
“Ah, todo mundo diz que sim, né? Eu falo que eu e meu esposo decidimos viver com a carreira do Rodrygo intensamente, nós abdicamos de muitas coisas para estar ali no dia a dia com ele, desde a parte de companheirismo, de alimentação. A gente evita o máximo de comer algo que ele não possa comer pra que ele não desperte uma vontade, estar ali o tempo todo ali com ele.
“E ele também nos ajuda muito a levar essa relação fácil, porque ele, não é porque é meu filho, mas ele é muito tranquilo, ele é muito humilde, ele nos ouve bastante, então a relação ficou muito fácil assim de ser levada”.
Quando estão juntos, o que gostam de fazer?
“Por incrível que pareça a gente é muito caseiro, eu e o Rodrygo somos muito parecidos, nós somos muito caseiros. No começo os horários dele eram mais maleáveis, a gente gosta muito de sair pra comprar roupa em loja. É muito engraçado porque ele gosta muito da minha opinião, de eu estar junto ali. Uma pena assim pela agenda dele ele não consegue sair tanto, mas uma coisa que a gente gosta muito é de ir nas lojas”.
O que o Rodrygo gosta de fazer no tempo livre?
“Ele gosta muito de videogame, a gente brinca que não dá pra assistir série com ele porque ele dorme. Ele dorme, ele tenta, a gente começa mas ele sempre dorme, e aí depois eu e o pai dele continua, ele chega no quarto e fala ‘Mas em que episódio vocês estão?’ e a gente ‘No quarto’ e ele ‘Mas eu nem saí do primeiro’, ‘Claro, você dormiu’. Mas a gente gosta disso, a gente tem uma sala que a gente apelidou ela de sala colorida, uma sala que a gente fica praticamente o dia inteiro, vendo os jogos, acaba o almoço, acaba a janta e é lá que a gente fica, é muito mais em casa”.
Por que Rodrygo com “Y”?
“Ah, não sei assim o certo, mas eu lembro que eu e o pai dele tínhamos uma dúvida entre nomes, mas não chegamos a uma conclusão de nomes. Eu queria muito nome composto e o pai dele não queria, até quando surgiu Rodrygo. Eu falei ‘Tá bom, mas só se for com Y’. E aí foi. Tanto que quando chegamos no cartório o moço falou ‘Nossa, mas Y? Vai te dar um pouco de problema’ e eu falei ‘Não, moço, eu quero com Y’, e aí foi”.
“Ana Julya com Y. Ana Julya até o dia que ela nasceu era com I, o chá de bebe, tudo, lembrancinha era com I. O pai dela foi registrar e voltou com Y. Eu falei ‘O que você fez?’. Só que hoje olhando não combinaria Ana Julya com I, e aí ficou os dois com Y”.
Te incomoda o fato de as vezes chamarem ele de “Rodraigo”?
“Não, eu acho bem bacana quando eles inventam, aqui ele é muito conhecido como Rodry. Quando você vai no clube as pessoas não falam Rodrygo, falam Rodry, então quando você vê você também tá falando Rodry. No Brasil já é ‘Rodraigo’, então é legal, é bacana”.
Você imaginava que seu filho, aos 23 anos, vestiria a camisa 10 da Seleção Brasileira? Camisa usada por Pelé, Zico, Ronaldinho Gaúcho…
“Olha, imaginar a gente imagina, mas não tão próximo, né? Mas com a dedicação, o empenho, não tinha como. Ele sempre foi muito precoce, então o tanto que ele se dedica, o tanto que ele trabalha, e graças a Deus ele teve a oportunidade de estar vestindo essa camisa, acho que ele vai ser muito abençoado, vai ser uma temporada muito abençoada”.
Como está a expectativa para a Copa América?
“Eu já to pensando nas malas, 45 dias nos Estados Unidos. Eu brinco com ele, as vezes falo ‘Filho, você não está nervoso?’ e ele ‘Nervoso com o que, mãe?’. Porque mãe é mais ansiosa, se desespera mais, mas a tranquilidade dele também nos acalma. Eu falo que eu aprendo com ele todos os dias, porque o Rodrygo ele tem costume de falar sem falar, e ele fala sem abrir a boca, ele observa muito. Então eu falo que ele só abre a boca quando é pra definir. Mas a gente está com uma expectativa bem bacana, bem confiante de que vai dar certo”.
No gol contra o City pela Champions, aos 23 anos apenas, Rodrygo ultrapassou Ronaldinho Gaúcho na artilharia de brasileiros na competição. Seu filho pode quebrar recordes?
“Muitos, tem muitos ainda. E a gente tem uma frase, todos os dias a gente fala pra ele que a gente não pode ser normal, você não pode achar que já ganhou tudo, sabe? Todos os dias ele entra no CT, o pai leva ele no CT e a gente agradece todos os dias, não pode ser normal. Eu creio que ele ainda vai ser campeão do mundo, ele vai ser o melhor do mundo, por toda dedicação que ele tem, tem muitas coisas vindo ai que Deus vai realizar, a gente crê muito nisso”.
Se você pudesse resumir o Rodrygo, como resumiria?
“Cara, o Rodrygo, eu falo que ele é meu estresse diário e ele é minha calmaria, sabe? Você não vê o Rodrygo reclamar de nada, você não vê… eu falo uma coisa assim, desde os 10 anos quando a gente chegou no Santos o Rodrygo nunca reclamou de ir para um treino, ele nunca levantou e falou assim ‘Hoje eu não vou’, sabe? Então assim, eu aprendo todos os dias com ele. Ele consegue vencer suas ansiedades, ele consegue não demonstrar que ele tá com medo. Às vezes eu falo pra ele ‘Filho, você não está nervoso ?’ e ele ‘Não’.
“Então assim, é orgulho mesmo a palavra que define ele, por tudo que ele faz, por tudo que ele representa, por tudo que ele nos permite viver. Como você mesmo disse do jogo de ontem, eu já fui em muitos jogos da Champions League, mas ontem, até falei pro Eric, foi um dia que eu fiquei muito emocionada, porque passa um filme na cabeça, toda a trajetória que você viveu, tudo o que você passou, e como você disse, 23 anos, ainda é muita coisa que tem pra acontecer, e ele já foi escolhido, já foi separado para estar ali. Então é orgulho e gratidão, não tem outra coisa pra se dizer”.
Se pudesse resumir você, a mãe de um craque do futebol mundial, como você diria?
“Difícil se autoavaliar, se for avaliar aqui em casa eu vou ser a chata, todos falam que eu sou muito chata. Mas eu tenho orgulho de mim, porque eu sei o que passei com ele sozinha lá em Santos, eu sei até onde eu fui, meus limites, eu sei todas as vezes que eu não conseguia dar nada, nada, mas eu levantei e dei o meu melhor como mãe pra ele. Tinha dias que eu não tinha o que falar, mas falava ‘Deus, me ajuda’, porque eu preciso falar alguma coisa pra ele.
“E aí hoje só pelo olhar a gente se entende, hoje a gente consegue se entender. Às vezes ele me fala ‘Mãe, por que você tá brava?’, ‘Não to brava, Rodrygo, só tô pensando’. Mas é um orgulho também de mim, de tudo que eu consegui, do homem que eu consegui formar. Primeiramente o homem, depois o atleta. Eu tenho muito orgulho do homem que ele tá se tornando, porque 23 anos ainda tá na fase de amadurecimento, tem os seus erros, suas falhas, mas é muito orgulho de quem ele tem se tornado”.
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